1. A Quantidade e Natureza dos Manuscritos
O Novo Testamento possui mais de 5.800 manuscritos gregos conhecidos, além de milhares em latim, copta, siríaco e outras línguas. Essa riqueza documental permite uma reconstrução textual mais segura do que qualquer outro documento da Antiguidade. Daniel Wallace afirma que mais de 99% do texto é estável[1]. Essa estabilidade quantitativa, contudo, não significa ausência de variantes textuais. Pelo contrário, estima-se que existam entre 300.000 a 500.000 variantes, embora a maioria seja ortográfica ou de ordem de palavras.
2. O Testemunho dos Papiros
Os papiros mais antigos, como o P52 (c. 125 d.C.), P66 e P75 (séculos II-III), revelam que o texto do Novo Testamento já circulava em forma consideravelmente estável desde o início do segundo século. Philip W. Comfort afirma que esses papiros confirmam em grande parte as leituras adotadas pelas edições críticas modernas[2]. O P75, por exemplo, é notável por sua semelhança com o Códice Vaticano, do século IV, indicando uma transmissão altamente estável por mais de 150 anos.
3. Crítica Textual e Edições Críticas
A edição Nestle-Aland 28 representa o estado da arte da crítica textual. Bruce M. Metzger, que foi coeditor de edições anteriores, afirmou que hoje podemos ter certeza de que temos, em essência, o texto original do Novo Testamento[3]. Kurt e Barbara Aland também afirmam que o texto crítico moderno reflete com grande fidelidade o original[4]. Craig A. Evans vai na mesma direção, sustentando que a crítica textual moderna nos permite recuperar com grande confiabilidade os escritos originais[5].
4. Variações Textuais: Ruído ou Riqueza?
Apesar das muitas variantes, os estudiosos são unânimes em afirmar que nenhuma doutrina cristã central depende de uma leitura textual específica. Isso é enfatizado por Metzger, que observa que as citações patrísticas seriam suficientes para reconstruir quase todo o Novo Testamento[6]. As variantes são vistas, portanto, não como um sinal de corrupção, mas como reflexo da vitalidade da tradição textual.
5. Conclusão: Uma Transmissão Estável com Margens de Flexibilidade
Diante do testemunho dos papiros, da crítica textual moderna e das avaliações dos principais estudiosos, é possível afirmar que a transmissão do texto do Novo Testamento foi, em linhas gerais, estável. Embora haja variantes, elas são em sua maioria menores e não comprometem a integridade da mensagem cristã. A edição Nestle-Aland 28, como resultado de um trabalho minucioso e acadêmico, é uma reconstrução com elevado grau de precisão do texto original.
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Referências e Notas
[1] WALLACE, Daniel B. The Reliability of the New Testament Manuscripts. Dallas Theological Seminary, 2004. Disponível em: https://bible.org/article/reliability-new-testament-manuscripts. Acesso em: mai. 2025. p. 1-4.
[2] COMFORT, Philip Wesley. Early Manuscripts and Modern Translations of the New Testament. Carol Stream: Tyndale House, 2001. p. 191-194.
[3] METZGER, Bruce M. The Text of the New Testament: Its Transmission, Corruption, and Restoration. 4. ed. New York: Oxford University Press, 2005. p. 126-127.
[4] ALAND, Kurt; ALAND, Barbara. The Text of the New Testament: An Introduction to the Critical Editions and to the Theory and Practice of Modern Textual Criticism. Grand Rapids: Eerdmans, 1995. p. 296-298.
[5] EVANS, Craig A. Jesus and the Manuscripts: What We Can Learn from the Oldest Texts. Peabody: Hendrickson Publishers, 2020. p. 72-75.